quinta-feira, 25 de junho de 2009

Depressibilidade

A minha vida não avança! Não me sinto bem! Falta-me qualquer coisa!

Grande parte das pessoas que procuram leituras sobre psicologia na internet apresentam um grau de insatisfação geral com a vida que não conseguem identificar (salvo raras excepções) quando aparentemente tem tudo para não se sentirem assim. Alguns até dizem “ tanta gente que há a sofrer com fome e eu nisto! Não tenho motivos para me sentir assim, tenho família, trabalho, que mais posso querer?”
O que estas pessoas apresentam é um estado de depressibilidade, como se estivessem em cima de uma linha que representa a fronteira entre a depressão e esse estado de insatisfação geral. São essas pessoas que vão inúmeras vezes aos médicos de família com queixas somáticas (sintomas corporais, tais como dores de cabeça) e da relação com os outros (ninguém os compreende) e que são medicados com antidepressivos uma vida inteira, oscilando entre períodos mais tristes e outros que até parece que não acontece nada. Grande parte dessas pessoas até sabe que tem um problema, mas por vezes não estão informados sobre quem devem consultar, e que esse sentir é de facto doença, e outras arranjam “desculpas” para não irem a uma consulta com medo de verem confirmadas as suas suspeitas, uma vez que ir ao psicólogo ainda é tabu. Telefonam, perguntam o preço, mandam emails, mas o que na realidade tem medo é de uma nova relação “Quanto tempo é que eu tenho que cá andar?” Perguntam nas consultas iniciais,” Será que eu fico dependente de si? Dizem que isto dá dependência.”
Se as relações anteriores da infância não foram seguras, se o sujeito não se sentiu reconhecido, então é natural que no decorrer da vida exista um sentimento de insatisfação. A energia que a pessoa tem mal dá para se sustentar (energia anímica ou libido), o ego está fraco e a auto-estima periclitante, no entanto ainda não estão criadas as condições de sofrimento para que a pessoa procure ajuda. As pessoas neste estado só procuram ajuda se um dia alcançarem um grau de sofrimento insuportável, caso contrário, ficam uma vida inteira sem se tratarem, achando que o que tem não é motivo para procurar ajuda. Se este é o seu caso, se a sua vida não anda, não consegue realizar coisas e evoluir, se está mal com toda a gente, se não tem paciência para nada, se não consegue obter prazer das coisas simples da vida e só se satisfaz com coisas inalcançáveis, então procure ajuda. Esses sentimentos não passam com o tempo. Ou estagnam ou avançam para uma depressão, mas em ambos a sua vida fica sem sentido.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Porquê fazer psicoterapia?

"Percorrer um caminho interrompido algures no desenvolvimento da pessoa."
Muitas pessoas ainda deixam de procurar um psicoterapeuta por preconceito ou vergonha. Para muitos, psicólogos só tratam loucos. Outros pensam: Porquê ir a um psicoterapeuta se pode conversar com um amigo ou ler um livro de auto-ajuda?Quantas vezes não contamos algo a alguém em busca de apoio e compreensão, somente para no fim nos sentirmos incompreendidos e decepcionados? Um amigo pode ajudar, mas não é um profissional, não conseguirá ser imparcial e provavelmente não está capacitado para ajudá-lo diante do enorme leque de dificuldades que encontramos durante a vida. Há aqueles que duvidam que "conversar" possa ajudar em alguma coisa, mas a palavra é capaz de curar. Hoje em dia as pesquisas na área das neuro-ciências já comprovam a eficácia e os benefícios da psicoterapia. Desta forma, a tendência é que com o tempo o estigma vá diminuindo e as pessoas percebam que o cuidado preventivo com a saúde mental, é tão importante quanto cuidar da saúde física.Muitos dos problemas com que lidamos na psicoterapia estão fora do alcance da nossa consciência. Ou seja: padrões inconscientes influenciam a maneira como agimos e como nos sentimos. O psicoterapeuta é um profissional treinado e formado para perceber esses padrões, e ajudar o paciente a percebê-los e a mudá-los.Em muitos casos, sabemos o que devemos fazer, mas não conseguimos. Isso ocorre porque existe uma diferença entre a compreensão intelectual de uma coisa, e a compreensão que vem do insight terapêutico, que ocorre de forma mais ampla do que a compreensão intelectual. As pessoas geralmente evitam procurar ajuda de um psicoterapeuta até que a situação se torne insustentável, ou que apareçam sintomas físicos. A separação entre o corpo e a mente só existe na teoria. Na prática, você é o seu corpo, e cada vez mais as pesquisas comprovam o quanto aquilo que sentimos e pensamos afeta o funcionamento do nosso corpo físico. Quando a psique está em desarmonia e não cuidamos dela, acabam surgindo sintomas físicos ou doenças psicossomáticas. Esses são os sinais de alerta do corpo, de que algo não vai bem.