segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Bullying: agressores e agredidos


Bullying é um termo de origem inglesa que descreve actos de violência física ou psicológicos praticados por um ou mais indivíduos com o objectivo de intimidar um indivíduo ou um grupo mais fraco. Pode surgir de duas formas: directa e indirecta, este ultimo mais enquadrado na agressão social. O bullying directo é mais praticado por indivíduos do sexo masculino e o indirecto por raparigas que embora não seja muito sinalizado é mais vulgar, passando no entanto mais despercebido. O bullying indirecto manifesta-se recorrendo a várias situações, tais como, espalhar comentários pejorativos, recusa em socializar com a vítima, intimidar outras pessoas que insistam em socializar-se com a vítima, criticar modo de vida, roupa, calçado etc.
No entanto o que me levou a escrever este artigo foi elucidar mais um pouco e noutra perspectiva, sobre quem são estes rapazes e raparigas que agridem, e outros que se deixam intimidar e são agredidos. Existem várias teorias, desde as ligadas á educação, vertente sociológica (baseadas em diversos estudos de campo) e até politicas, relacionadas com as directrizes governativas face à política de educação. Todas elas estão interligadas e todas têm razão nos vários aspectos que focam. O meu objectivo com este post é desmistificar este tema muito conhecido dos psicoterapeutas e psicólogos, pela sua prática clínica privada, dados que nunca são divulgados, pois pertencem a uma esfera restrita da saúde mental (prática psicoterapêutica privada) e não contam para estatísticas. Agressores e agredidos aparecem em consulta privada com regularidade, quando os pais ainda conseguem perceber que os filhos e os próprios pais têm um problema.
Quem são os agressores?
São crianças que de alguma forma foram sujeitos ou a uma repressão severa em casa, nunca lhes sendo permitido manifestar algum tipo de agressividade (a agressividade é normativa, faz falta para a vida adulta como impulsionadora das realizações do ser humano em todas as suas esferas, familiar, profissional, afectiva etc.) são os filhos obedientes e bonzinhos, que nunca deram problemas aos pais, mas que foram sujeitos a uma educação demasiado repressiva. Ou, num outro extremo, os filhos sujeitos a grandes doses de violência física, com a qual se começam a identificar e a agir sobre os outros como modelo relacional interiorizado. Aqueles que nunca conseguiram manifestar discordância aos pais e revoltarem-se podem de igual forma agir a agressividade com outros como forma de libertarem a raiva contida, impossível de pensar. No entanto é mais vulgar estes rapazes serem vítimas, como repetição do modelo de autoridade a que foram sujeitos. Vulgarmente aparecem em consulta rapazes entre os doze e os catorze anos, trazidos pelos pais, por outros motivos distintos daqueles que depois se vêem a verificar. O pedido inicial tem a ver muitas vezes com as aprendizagens escolares insatisfatórias, sintomas de irritabilidade, destruição de objectos (portas e outros mobiliários) em momentos de raiva não contida, choro intenso sem motivo aparente, queixas seguidas por parte da escola entre outros, recusa em ir á escola, este é o pedido dos pais, o pedido dos filhos é bem diferente, vulgarmente uma revolta muito grande com os pais por uma falta de afecto sentida (foi essa a construção mental da criança face à leitura dos acontecimentos de vida) ou queixas de agressões verbais e físicas na escola que escondem aos pais por medo e vergonha de serem mais humilhados ainda. Por trás destas crianças estão quase sempre pais muito ausentes física e afectivamente que fizeram o melhor que sabiam mas que foram lidos de forma menos saudável e que propiciaram o terreno para que a depressão se instalasse. Quase sempre se encontram esboços de estruturas de personalidade depressivas em vítimas e agressores. No bullying do meu ponto de vista não existem bons e maus, ambos são vitimas que necessitam de ajuda psicoterapêutica, única forma de interromper um ciclo de violência contida e agida. A salvaguardar que em casos extremos de vitimização constantes o sofrimento emocional é tão intenso que poderá conduzir a actos extremos contra o próprio: o suicídio. Em 2002 na Inglaterra Hamed Nastoh, suicidou-se depois de ser vítima de bullying continuado, sem nunca ter revelado aos pais o que lhe sucedia na escola.
Se pensarmos que por cada criança que passa por uma psicoterapia o numero de pessoas que é beneficiada (família e sociedade) e o ciclo geracional que é possível ser interrompido talvez seja fácil de imaginar o dinheiro que o estado poupa em internamentos, prisões, medicamentos, e outras repercussões sociais que se alastram por contactos interpessoais.

Sem comentários:

Enviar um comentário

As suas opiniões e perguntas são sempre bem vindas. Se desejar anonimato peça para o comentário não ser publicado.