"Tinha começado. 
Pulou da cama e descalça desceu as escadas com a rapidez que
a agilidade dos seus dez anos lhe permitia. 
Num segundo abria a porta da cozinha e saltava para o meio
dos dois. 
- Larga-a! – e pontapeava o pai com os pés nus ignorando a
dor e também a ineficácia do seu ato. 
O cheiro a álcool inundava o ambiente e o chão era uma
amálgama de vidros e comida. Sentiu uma mão a puxar-lhe o cabelo e de súbito
foi arremessada no ar embatendo na porta do armário. 
Demorou alguns segundos a recuperar a respiração cortada
pelo impacto, mas o seu instinto dizia-lhe que tinha de voltar à carga. 
Ele ia matá-la! O pai ia matar a mãe! 
Mal conseguira levantar-se e já a cena do costume ia
adiantada. No chão a mãe estrebuchava debaixo do corpanzil do pai que lhe
tentava tapar a boca com um pano de cozinha. 
Adriana elevou uma cadeira e despenhou-a nas costas do pai.
Um uivo de dor e raiva ouviu-se em toda a casa."

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